E se o Didi morrer? Eu morro um pouco, como morro todos os dias. Didi, esse que chamam de Renato, de Aragão, de Mocó, de “pissiti”, ou o que seja, é parte da nossa vida, da nossa infância. Foi vendo Didi que muitas vezes minhas pernas ficaram da cor dos narizes de palhaços, com marcas de mãos, por derramar comida no sofá, na hora do almoço. Aliás, sofá não, poltrona. Ô da poltrona. Didi nos fez esquecer o gosto do arroz queimado ou do suculento frango à milanesa.
Que almoço o quê! A gente sentava com o copo de alguma coisa entre as pernas, derramava um pouco todo dia, apanhava de novo e via Didi, que não vinha sozinho. Tinha Dedé, Mussum e até Zacarias. Daí tinha riso, tinha pureza, tinha graça, não tinha desgraça, tinha zelo, não tinha apelo, tinha comoção, não tinha apelação, tinha Didi, tinha risada. Que privilégio poder ver Didi, e não a Turma dele. Que sorte ver ele e não ver planetas nem cassetas. Ver Didi, de noite, antes do Fantástico ou de dia, antes ou durante o almoço. Era ver o riso, era esquecer o certo e o correto e ver as trapalhadas, Os Trapalhões.
Então é assim: quando dói o coração do Didi, dói o nosso. Se a veia fechar e faltar sangue, falta no nosso coração também. Se o Didi morrer, morre um pouco do humor, que morre todos os dias quando as tragédias invadem o plim-plim que outrora anunciava com aquela “musiquinha” (pare e tente lembrar) que a trapalhada ia começar. Quando ele sofre lá, a gente sofre aqui, como sofre todos os dias. Quando ele chora de lá, a gente ri de cá, lembrando de um tal Didi de costeleta grande, de cabeça achatada e de uma dúzia de remédios que lhe davam sobrenome.
Mas não aquele Didi da Criança e da Esperança, de uma campanha suspeita, mas o Didi, do Dedé, do Mussum e do Zacarias. Dos filmes no cinema, quando a gente tinha cinema, da Serra Pelada, O Cangaceiro, No Rabo do Cometa, enfim, Didi, dos tempos de Didi, da piada que nunca era pronta. Morre não, Didi, senão a gente também morre aqui, como morre um pouco todos os dias.
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