Pular para o conteúdo principal

Era uma vez o gol!


Vai embora o gol mais bonito do Brasil. Na verdade, um gol de placa que não deve ser afixada em nenhum estádio, seja no Brasil ou no mundo, mas no céu, entre nuvens, traves e redes. Não aquele gol desenhado pelas pernas tortas de um negro ou por um camisa 10 mirabolante em uma cobrança de falta. Dá adeus o mais emocionante gol da televisão brasileira. Não o de bicicleta, do jogador do seu time, de letra ou de bico mesmo. Parte, como parte nossas tardes de domingo, o gol que vinha da alma, atravessava a garganta e chegava como música para os nossos ouvidos. Longo, curto, triste, alegre, mas sempre gol, que saía do coração, o mesmo que deixou de bater.  
Vai o homem e fica um mito. Ou parte um mito e fica o homem? Vai junto a emoção e 11, onze, 11 Copas do Mundo mais um curriculum invejável. E de um tempo em que não existia TV, nem cara fechada. Do tempo em que se vê hoje nas inúmeras operadoras o que ele fazia na televisão aberta, com seu sorriso aberto. Por isso e por muitos outros motivos, não vai apenas o narrador, o vendedor de emoções, vai o empreendedor, o empresário, o precursor, vai a voz da TV no Brasil. 
É como se mais um campeonato brasileiro, entre tantos outros, começasse no mute, no mudo. Sem alegria, sem gol, sem gols. Como se o aparelho, seja de 14 ou 50 polegadas, estivesse com defeito, falho. Não sai o gol, não sai a emoção daquele gigante pulmão. No domingo em que os caminhos do paraíso chamaram  e clamaram por um “Valle”, o silêncio se fez presente. É como se os deuses do futebol protestassem a perda, a ida. Como se justo naquele jogo, o qual ele iria cobrir, como fizera em milhares, não fosse permitido o gol naquela tarde. E não, não aconteceu. Um zero a zero naquele fatídico domingo era o mínimo de respeito que o futebol poderia prestar ao Senhor da Narração. E assim foi, no dia em que enterraram a voz do esporte brasileiro, não houve gritos naquele jogo. Aliás, nos dois jogos que a TV Bandeirantes transmitiu, Flamengo x Goiás e Atlético x Corinthians, a rede não balançou, o grito não saiu, o silêncio se fez presente e nosso domingo, como muitos outros que se aproximam, ficou e ficarão mais pobres, mais calados, mais tristes.
Sobe o ser capaz de colocar emoção em um jogo de bilhar, empossar rainhas, glorificar pedreiros, acelerar corações e carros, enterrar dificuldades e bloquear e proliferar um esporte que chegaria ser seu sobrenome. Ganham lá em cima e perdemos aqui embaixo. Se despede Luciano do Valle e permanece o canal do esporte. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Que saudade do seu abraço

Se existia alguma dúvida, não há mais: nós, meros seres humanos, não fomos feitos para viver individualmente. O nosso disco da vida tem que tocar a faixa “coletividade”, se possível, no modo repetitivo, do inglês repeat. E olha que não precisamos nem de 90 dias para comprovar isso. Pouco menos e já aprendemos que nascemos, em especial nós brasileiros, para tocar, encostar, apertar, apalpar e abraçar. Abraçar! Isso, abraçar, em forma de c, com os braços e o coração aberto. Forte, instintivo, natural, genuíno, grande, seja qual for a modalidade do abraço, definitivamente não dá para viver sem. Esta é a comprovação que a humanidade aguardava. Também te bateu aquela saudade? Aquela da mesa de casa, do almoço, do escritório ou de bar mesmo, aquela procedida de um gole, um olhar e um efusivo abraço sobre a melodia do “gosto de você pra caralho”? Te bateu? Bateu aí? Aquele de manhã, com cheiro do amor de ontem, que sobra sussurro no ouvido? Aquele depois da escola, com cheiro de bagunç

O Cruzeiro caiu em 2013

Mais precisamente no dia 24 de novembro de 2013, quando a superintendência da Polícia Federal do Espírito Santo apreendeu, durante operação, 450 kg de cocaína em um helicóptero da Limeira Agropecuária, empresa do deputado estadual por Minas Gerais Gustavo Perrella (Solidariedade), filho do senador e na época ex-presidente do Cruzeiro Zezé Perrella (PDT-MG), este mesmo sujeito, que seis anos depois, foi “convocado” para evitar a queda do time celeste. Ou seja, a queda deste dia 8 de dezembro, que ficará marcada na história do Cruzeiro, começou fora do campo, quando a solução se deu por um sujeito envolvido em falcatruas e corrupção. Erro grave e que se “agravou” quando vieram à tona, através dos brilhantes repórteres Gabriela Moreira e Rodrigo Capelo, no programa Fantástico da TV Globo, uma matéria completa mostrando a situação financeira e as movimentações ilegais fora de campo. Naquele domingo à noite a repórter anunciou ao Brasil e ao mundo o que iria acontecer no

Ele vibra, ele é fibra

O ano é 2001. Em meio a mais uma turbulência e milhares de verbos e verbetes execrando o Flamengo, eis que surge: “Eles fingem que pagam e eu finjo que jogo", assinado Vampeta um ex-jogador de futebol se referindo a um dos clubes mais poderosos do futebol mundial. Humilhado!  Não há nenhuma confirmação, mas um ano depois, uma Bandeira é erguida na gávea, a Bandeira de um tal Eduardo, um economista, bancário, homem do dinheiro, ou acostumado a lidar com ele. Tudo o que o Flamengo precisava. Iluminado! E veio o choque, choque financeiro. Eliminações precoces, goleadas humilhantes, ameaças de rebaixamento e inúmeros resultados abaixo da expectativa que precisavam e foram digeridos com sobriedade. Nenhuma loucura, pés no chão, chão de terra em um espaço projetado por um “pofexor” flamenguista. Containers improvisados no início da construção de um Ninho. Quem não se lembra do carrinho de mão servindo de maca? E se por um lado os números, através da Bandeira, procuravam e