Eu sou Flamengo, mas sou mesmo, acredito que desde o útero da minha mãe. Sério! Não me recordo “muito bem”, mas acho que já gritava “Mengoooooooo” dentro da placenta. Doente mesmo, daqueles que quando a mãe colocava o sinto de segurança chutava o útero como forma de repúdio e ouvia ela inocente dizer: “Vai ser jogador de futebol!”. Mal sabia ela que o chute era repúdio a faixa que lembra o rival. Doentio mesmo, daqueles que nem come bacalhau porque lembra o Vasco também. Brincadeiras a parte, eu sou Flamengo mesmo. Desde quando não sei, mas tenho a sensação de que nasci com essa “doença”. Sou daqueles “roxos rubro-negros”, se é que isso existe. Daqueles que debate, fala mal pra caramba do juiz. Que já chutou latão de lixo e quebrou o pé. Do estilo sofredor, apaixonado, que vai ao Maracanã, que tem camisa, short, meia, chaveiro e até RG do Mengão. Enfim, sou Flamengo de coração, daqueles que viu Zico, Bebeto, Romário, Renato Gaúcho e Leandro jogarem. Daqueles que sofreu com Negreiros, Maurinho e Cássio nas laterais, Júnior Baiano e Fernando na zaga. E daqueles que ainda sofre com Gabriel e Carlos Eduardo no meio campo.
Não preciso mais justificar, sou Flamengo mesmo, mas definitivamente, não sou trouxa. Não mesmo. Não sou idiota, não sou em resumo um besta cego capaz de pagar quinhentos paus ou até duzentos e cinqüenta para ver seu time jogar. Minha vida não é padrão FIFA. Sou brasileiro e realista. A luz vai vencer, o aluguel vai vencer e eu não posso pagar uma fortuna, mesmo que seja para ver o Flamengo também vencer. Repito: minha vida não é padrão FIFA. Meu padrão come, se veste, se diverte, paga, paga, paga e paga. Se elitizaram o futebol, eu fiquei de fora, até porque não sou elite, eu já disse, sou Flamengo, e se sou Flamengo logo não sou elite. Até Freud explica. Simples assim! Se a ideia é como muitos defendem, angariar fundos e conquistar sócios torcedores, esqueça Flamengo, perdeu um torcedor, desculpe um sócio. Torcedor eu deixarei de ser quando minha boca estiver cheia de terra. Quando estiver de partida para a terra do pé junto. Quando abotoar o paletó. Enfim, vamos combinar, sou Flamengo, mas só até morrer. Mas sócio, desses que pagam para Carlos Eduardo ou qualquer outro mesmo que seja craque de verdade, faturar quinhentos mil por mês, eu não sou e nem serei. Não sou trouxa, não sou besta, não sou cego. Já disse, repito: sou Flamengo, e isso é outra coisa, longe de poder aquisitivo, de renda, de dinheiro. Essa onda de futebol do século XXI, do tal sócio, do padrão FIFA é outra coisa. Ser Flamengo é diferente. Ser Flamengo é ir no estádio, pagando um valor digno, ouvir a torcida gritar: favelados, e abri um sorriso, com ou sem dente, cheio de orgulho. Ah! Isso é ser Flamengo
Portanto, o que me resta, como um simples torcedor, pobre, porém digno, é torcer para que o time volte a jogar mal e a diretoria faça promoções que leve os verdadeiros flamenguistas aos estádios. Aqueles que não apenas aplaudem, mas berram, que não apenas chorem, mas morrem pelo Mengão. Enfim, o que me resta é esperar que eles precisem de nós novamente, como muitas vezes precisaram. Aí sim, estarei lá, no meu padrão, padrão Mengão, de camisa, bandeira, terço e garganta afiada, gritando, esperneando, torcendo para o meu Flamengo, aquele Flamengo.
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